segunda-feira, novembro 23, 2009

De repente, não mais que de repente...

Tudo se encaixa. Então é isso.
Não precisou de muitas reflexões para se dar conta de que sua vida era outra. De que ela mesma era outra. Não precisou que se trancasse em um quarto e repensasse passo a passo da sua vida e traçasse um planejamento de mudança para que isso realmente acontecesse. Não, não eram necessárias tabelas, prazos, estatísticas, receitas, números. Bastou apenas que vivesse cada dia.. aprendendo com cada nova sensação.
Disse não. Fez bem. Disse de novo. Até que quisesse dizer sim. E quando o fez de sincera certeza que queria dizer sim, sentiu-se bem. Assim, aprendeu a dizer o não.
Ficou sozinha. Permitiu-se ficar sozinha. Por menor que fosse o tempo, sem conselhos, sem clichês, sem mentiras sinceras. Disse para si o que precisava ouvir. Ficou com raiva de si mesma, mas logo entendeu. Era verdade.. não mentiria. Por que mentiria? Precisava apenas da sua própria verdade.
Sentiu raiva, medo, desencanto, desilusão. E deixou que esses sentimentos fossem perdendo o sentido pouco a pouco diante de outros que pareciam melhores: A satisfação da conquista. O humor de rir d'ela mesma. O prazer da indiferença. O conforto de matar a saudade.
Ignorou. O que podia, o que queria. E até aquilo que foi custoso. Precisava ignorar antes que perdesse a paciência com o egoísmo alheio que insiste em se dizer altruísta.
O que seria mais egoísta: fazer o que deseja e tem vontade ou querer que os outros façam o que você deseja e tem vontade?
Como já sabia a resposta, ignorou os ataques infantis, os devaneios, as indiretas mal feitas.
Leu o que quis. Escreveu o que quis. Viu, xingou, gostou.
E.. de repente, não mais que de repente..
O que magoava, agora era lembrança. O que chateava.. agora era ausência. O que irritava..agora era desprezo. O que inconformava..agora é piedade. O que era perdido, hoje é ganho. O que era azar... hj é aprendizado. O que parecia castigo, no fundo, foi benção.
E tudo foi..de repente..não mais que de repente*...


(verso de Vinicius de Moraes, "Soneto de Separação")