segunda-feira, janeiro 08, 2007

Uma carta de desamor

"Também temos saudade do que não existiu,
e dói bastante." (carlos drummond de andrade)

Stella Florence escreve um pedido de desculpas para quando o amor dá errado. A crônica desta semana é para todas as mulheres que amaram demais, mas foram amadas de menos Stella Florence*

Me desculpe por ter tomado a iniciativa. Me desculpe por ter escrito. Me desculpe por ter ligado. Me desculpe por eu ter voz.

Me desculpe por ter dito sim.(...) Me desculpe por eu ter voz.

Me desculpe pelos machucados que sua ex deixou em você. Me desculpe por eu ter vindo logo atrás dela. Me desculpe por querer entender seu silêncio. Me desculpe por eu ter voz.

Me desculpe por eu não ter usado máscara. Me desculpe por desejar alguma intensidade. Me desculpe por desejar. Me desculpe por eu ter voz.

Me desculpe pelo que foi ruim. Me desculpe pelo que foi bom. Me desculpe pelo atrevimento de supor que eu merecia o que de bom aconteceu. Me desculpe por eu ter voz.

(...)

Me desculpe por eu ter escrito coisas lindas para você. Me desculpe por você não ter entendido um terço do que eu escrevi. Me desculpe por você ter me achado ousada demais. Me desculpe por eu ter voz.

Me desculpe por, em algum momento, eu ter te amado. Me desculpe por, em algum momento, eu ter te achado bonito. Me desculpe por, em algum momento, eu ter me achado bonita. Me desculpe por eu ter voz.

Me desculpe pelos seus erros de português. Me desculpe pelos erros de português da sua nova namorada. Me desculpe pela sua nova namorada achar margarida uma flor pobre. Me desculpe por eu ter voz.

Me desculpe por você torcer para o Palmeiras. Me desculpe se uma barata entrar na sua cozinha algum dia. Me desculpe pelos 130 km de congestionamento em São Paulo agora. Me desculpe por eu ter voz.

Mas, sobretudo, me desculpe por pedir essas ridículas, inúteis e dolorosas desculpas. Que, naturalmente, não são para você, afinal, porcos não reconhecem pérolas.

(Arrasou.)

A colunista Stella Florence tem espaço semanal no site de Criativa. Stella é escritora, autora de 'Hoje Acordei Gorda' e de 'Ciúme, Chulé e um Apelido Ridículo', entre outros livros
Entre em contato com a escritora: stellaflorence@globo.com

8 comentários:

Anônimo disse...

A verdade é uma só
A gente nasceu com esse fardo, que é ser mulher.
E quem nasceu homem, jamais vai entender todas, todas essas coisas. Nem o fato de não termos vergonha de termos voz.
=*

Sue Ellen disse...

Pois eu não acho que ela banalizou, pra mim, esse texto é uma grande ironia!
E isso fica claro no último parágrafo. E ela ironiza, pq a outra pessoa age como se nós fossemos culpadas, como se tivessemos escolhido gostar deles, e ele nada pode fazer.

pra mim, ela descreveu exatamente a sensação de indiferença numa relação unilateral..

(será que alguém mais comenta o próprio blog??)

Anônimo disse...

Não, Sue, só vc comenta o próprio blog! hahahaha menina, até qdo não é vc que escreve vc escreve bem, né? rsrsrsrsrs Amei esse texto e me identifiquei com ele, e é só! Bjitos.

Anônimo disse...

uhauhauah..
Eu gostei do texto!!! De verdade...
Eh um poko ironico, ao msm tempo triste...
Um desabafo, I guess...
Enfant!!! A muié deve ter comido o pão que El Cão amassou e só quem sabe o que é isso, entende...

Eu sei ;)

Anônimo disse...

muito show esse texto. diz muito em muito pouco.

by marcelo barros.

Kel Garcia disse...

Pra pouco entendedor meia palavra vale adorei a Stella esta de parabens não tem nada de banalidade e sim de verdade.. bjus

Geanefer disse...

..."afinal, porcos não reconhecem pérolas" ! Muito boa!!! Achei "Uma carta de desamor" uma maneira divertida e segura de reconhecer que temos nosso valor e sabemos disso. Adorei a entrevista de Stella Florence ao Jô, uma mulher inteligente, moderna, alto astral que faz com que nós Mulheres, (sim! com M maiúsculo) sejamos fiéis ao nossos sentimentos. Parabéns pelo blog!

Geanefer disse...

Corrigindo: "reconhecer que temos nosso valor e queremos que saibam disso".