sábado, agosto 21, 2010

Apaixonei-me. E foi assim.

Existem coisas que parecem não fazer parte do mundo real. Aliás, existem muitas coisas que são assim. Aquelas praias paradisíacas do Caribe, aqueles homens bonitos dos filmes de Holywood, aquele dinheiro todo que os artistas parecem ter.. Ou ainda, os postais clichês. Existem imagens que já vimos tanto, que parecem já tão batidas que por vezes até desconsideramos a possibilidade de vê-las "na vida real". E como é quando realmente a vemos?
É, eu nunca tinha me perguntado como seria... 
Não sei da onde e nem como me veio esse encanto com a França, particularmente, por Paris. Talvez tenha começado com as aulas de francês.Ou não.. enfim, o fato é que há anos se tornou um sonho conhecer a cidade luz. E era como eu disse acima, algo tão distante, tão irreal e tão clichê que era como se eu já conhecesse pelas fotos que via por aí...era como aqueles sonhos que a gente sonha tanto que parece que eles são impossíveis de realizar. Cada um tem o seu né? E não tem como explicar, eles surgem.. Você sabe como é realizar um sonho? já teve essa sensação?  Então, vou contar-lhes uma história!

"Era julho. Lá pra cima, no hemisfério norte fazia muito calor e uma longa viagem chegava ao fim. (Ou seria começo?) Português, espanhol, inglês e finalmente, francês!! Essa era a lingua que ela escutava pelas ruas sem ainda não conseguir entender muito bem, contentava-se em apenas apreciar a melodia e buscava algo que fosse familiar. As ruas, as casas, a língua, todas aquelas imagens não eram estranhas, ela já conhecia, de algum lugar, mas agora era tudo mais vivo, mais.. real. Ainda assim, a ficha não tinha caído por completo, era preciso uma coisa. E ela sabia qual coisa!  
Estava lá, estação Bir Hakein, Tour Eiffel - a cada estação que passava era aquela ansiedade por não saber em qual momento exatamente se encontrariam. E na hora que percebeu que o trem não passaria por debaixo da terra, virava o rosto de um lado a outro da janela procurando onde ela apareceria!
E lá estava, linda, grandiosa. Durou segundos a passagem do trem, essa foi a primeira de muitas vezes que elas se encontraram, a primeira de muitas vezes que ficou olhando fixamente para aquele postal, mas foi a primeira. E a primeira vez, a gente nunca esquece, não é mesmo?

E assim foi o começo de dias que se tornaram inesquecíveis... era difícil esconder a emoção a cada novo encontro, era difícil evitar parecer ridícula e deslumbrada. Ainda bem que os melhores momentos da vida são aqueles em que somos ridículos - nos quais abrimos mão da preocupação com o julgamento e fazemos aquilo que sentimos e nos faz bem. Sapateou junto com a amiga quando pisou de fato no Louvre. Veio até a garganta um grito quando viu a Monalisa. Quase torceu o pescoço de tanto que ficou ollhando pra cima, admirando a Notre Dame e quase matou as amigas de susto quando parou no meio das escadarias da Sacre coeur e disse: "Genteeeee... olha isso"!!! A vontade de expressar é grande, mas ninguém é capaz de entender o quanto ela imaginara um dia estar ali em cima, vendo toda a cidade, que segundo Eça de Queirós, era cinza. Não dava para explicar em palavras, talvez as lágrimas explicassem melhor.

E cada dia era uma nova descoberta, o Arco do Triunfo quando se perdeu no bairro da escola, caminhando na beira do Sena, um senhor que caminhava sem as calças (?), outro louco que decidiu atravessá-lo e quase morreu de susto quando tirava foto de um cemitério e um corvo a surpreendeu com um grito assustador.

No último dia, andou sozinha pela cidade. Foi se despedir de Paris...era impressionante como já andava pela cidade como se vivesse ali, com a diferença de que não conseguia ter a indiferença dos parisienses aos belos monumentos. Foi ao terraço do arco do triunfo e se pôs a imaginar quanta coisa já não aconteceu naquele lugar, a chegada das tropas de Napoleão por aquela avenida imensaaa, em como aqueles franceses são encanados com a simetria, todas as dozes ruas que partem do arco, iguaizinhas... o eixo histórico: de um lado, o louvre, do outro, o arco da Defense que é de uma arquitetura moderna destoante em uma cidade que parece ter parado no tempo. E lá longe, a torre... teve que ir vê-la de novo. Subir na torre nem foi uma das coisas mais legais que fez em Paris, mas ficar olhando para ela é incansável. Ficaram lá, as duas, ela agradecia a Deus pela oportunidade que ele lhe deu, agradecendo por essa cidade ser mto mais do que esperava, e por ter proporcionado esses dias incríveis e mágicos. De repente, sentiu o medo de tudo ser um sonho e acordar, ficou pensando em como seria agora voltar para a sua vida e, principalmente, quando teria de novo aquela vista incrível! 
Mas a despedida não estava completa, faltava o lugar preferido: o Sena. Olhando aquele rio, ficou lembrando de cada momento, tentando guardar o máximo que pudesse: o cheiro, as sensações, as lembranças, os rostos, as vozes...  
De repente, as luzes da cidade já estavam acesas, sentiu a brisa comum nas noites de verão e partiu. Um nó na garganta se formou. Assim como não saberia como seria quando chegasse, também desconhecia como seria partir. Sabe quando você acorda de um sonho bom antes dele terminar? A verdade é que os sonhos nunca terminam." 

E foi assim. Essa é a história do meu sonho, como se fosse possível traduzir em palavras tudo que eu senti. Me apaixonei. Eu sabia que isso aconteceria, me apaixonei por Paris cegamente, daquelas paixões que são capazes de cegar os defeitos. E como em todas as paixões, é difícil abandonar. E em como todas as paixões, sempre esperamos pelo reencontro!!! Voltarei, sem dúvida.. 



"Ela acreditava em anjos e, porque acreditava, eles existiam." (Clarice Lispector)