sábado, novembro 27, 2010

É outra realidade que é bem triste.

Está aí, em todos os noticiário, em todas as redes sociais. Fotos "chocantes". Camburões, exército, o BOPE. Parece que a Guerra agora está realmente com cara de Guerra. Sim, porque essa guerra sempre existiu, não sejamos inocentes de achar que não. Acontece que - aparentemente (logo explico o "aparentemente") - a coisa ficou feia e resolveram mostrar que sabem fazer alguma coisa.

Nessa história toda, quem mais me irrita é classe média. Da qual faço parte e assumo minha parcela de culpa. É a classe média que fica pedindo paz pelo twitter, mas que fala mal dos "mano" que ouvem música alta no ônibus. É a classe média que clama por igualdade social mas que acha um absurdo as cotas nas universidades públicas. É a classe média que diz que o governo faz pouco caso dos mais desfavorecidos, mas que insulta com belos palavrões aquele que rouba seu celular de última geração. A classe que reclama dos "nordestinos" que invadiram a cidade mas não se importa com estes que trabalham pra ela. A classe média que desenvolve projetos sociais e fuma maconha nas festinhas da faculdade.... este mesmo que fuma maconha é o que já disse em uma mesa de bar que acha que "policial é tudo filho da puta" mas nem mesmo sabe o que é pagar suas próprias contas. 

Já diria Cazuza: A burguesia fede! Enoja. 

Estão todos comovidos, choram. "Que horror! Quanta violência! Isso é um absurdo! Que triste..." Choram com uma hipocrisia ridícula e se vangloriam: "Agora sim, a policia está certa! Tem que matar! Bandido bom é bandido morto".  

O grande problema da classe média é achar que o problema da sociedade é o pobre. Não é. É ela mesma. É ela que acha que faz voto de protesto e elege o Tiririca. É ela que acha que os pobres não sabem votar. E estes realmente não sabem, pior são aqueles que estudam, tem algum conhecimento e mesmo assim não sabem. É ela que acha legal que o Brasil vai sediar a copa e as Olimpíadas.É ela que acha que é função do governo resolver os problemas. 

 Bem, quando assisti Tropa de Elite 2, uma das coisas que mais me chamou atenção foi a dualidade entre os personagens Fraga e Coronel Nascimento. Um idealista, outro realista. Um pelo intelecto, outro pela força. Um sonha, outro luta. E no fundo os dois tem uma semelhança gritante: querem mudar o país. Enquanto os dois se enfrentam, não chegam a lugar nenhum. Coronel Nacimento revela o desejo da classe média que se sente acudada: Matem os bandidos! bandido bom é bandido morto! - Fraga representa o desejo dos teóricos e intelectuais - Não adianta matar! É preciso transformar a sociedade! - Quem está certo? Os dois. E o filme nos mostra que os dois podem trabalhar juntos. Devem. Cada um fazendo a sua parte e um colaborando com o outro, mas não se enfrentando. 
Não dá para sermos tão realista quanto o herói Capitão Nascimento. Matar os bandidos não vai resolver. Ele mesmo percebe isso. E não dá pra ser um idealista politicamente correto como Fraga. E a suposta solução para os nossos problemas está ainda bem longe de ser realizada.  

Ótimo, Sue Ellen. Você falou, falou, e aí? Pra que? Pra dizer que não tem mais jeito? Talvez. 
Mas principalmente quero que as pessoas criem consciência de que podem matar todos os traficantes e bandidos possíveis. Eliminar um por um. Em pouquíssimo tempo, haverá outros. Haverá novos bandidos, porque enquanto houver pobreza, haverá bandidos. Enquanto houver uma desigualdade social gritante como é, novos bandidos surgirão, porque eles não tem outra escolha. E eles vão continuar sobrevivendo e ganhando dinheiro em cima do idiota que usa a mesada do pai para consumir droga. Ou do artista milionário que participa de eventos por um mundo melhor e "dá um tiro" antes de entrar no palco. Ele vai sobreviver porque a classe média o sustenta. 

E ainda diz depois: "Mas o governo....."

ps.: O aparentemente é devido ao sensacionalismo da mídia. Não sabemos até que ponto isso tudo não é um exagero ou a situação tá feia mesmo. É sempre bom ter cautela, mas é fato que não dá pra ignorar!

Um comentário:

Isis disse...

Muito bom, Sue!
Eu estava no Rio e posso dizer que a coisa tá feia sim, o clima é estranho, muito policial na rua, mas quem sofre mesmo, na pele, são aqueles que moram próximo ou no próprio complexo de favelas do alemão. Quem mora longe (a cidade é muito grande) não presenciou nada, a não ser ao vivo pela televisão igual a todo mundo.
Eu concordo com vc, apesar da midia querer formatar a realidade dessa maneira, não existem mocinhos, bandidos, nem heróis. Tudo isso é consequência da falta de distribuição de riquezas, tão gritante em nosso país.
Enfim, agora vamos esperar a tomada da Rocinha, que fica próxima a bairros ricos... Aí o bicho vai pegar!
Beijo, Su! (adorando nossos emails...rsrs)