sexta-feira, outubro 14, 2011

Pedido de Dia dos professores.

Houve um tempo em que ser professor era uma posição de respeito, uma ótima profissão  a ser seguida. Nunca passava pela cabeça de qualquer aluno desrespeitar a um professor, era a autoridade máxima em sala de aula. Nesse tempo também, havia muito professor ruim, que se achava o dono da verdade, não sabia ouvir, não sabia dialogar, via seus alunos como máquinas que deveriam reproduzir o que ele havia lhes transmitido e caso não o fizessem, eles é que eram burros, incompetentes. Alguns professores usavam da sua autoridade para impor respeito, mas será que ensinavam de fato? 
No discurso entre os professores e também na sociedade como um todo, existe um saudosismo desse tempo em que os professores detinham esse poder. Primeiro, porque a posição do professor na sociedade hoje mudou completamente, segundo porque os dados com relação a educação revelam o caos, logo precisa-se encontrar uma maneira de solucionar o problema. E aí vêm mil campanhas de valorização, é comercial do MEC, é incentivo a licenciatura, é imagens do facebook do tipo "respeito ao professor", "troque um parlamentar por 23403594368 professores" e mais muito blábláblá que vemos por aí. 

Bem, eu não queria ter o respeito que esses professores do passado tinham. Porque não era respeito, era medo. Eu não queria nem mesmo ser como eram. Eu gosto de ouvir. Eu gosto de ser questionada. Me faz querer aprender mais, melhorar. A pergunta que eu não soube responder hoje, pode ser respondida com excelência no dia seguinte, desde que eu reconheça o seu valor. Meus alunos não são máquinas. São pessoas! Pessoas incríveis! Que estão passando pelo momento mais chato da vida delas - a tal da adolescência - mas por trás das caretas, respostinhas petulantes e reclamações, existem pessoas que, às vezes, só precisam que você lhes escute um pouco. O respeito que eu busco entre os meus alunos é fazendo-os ver que eu sou uma pessoa normal:  erro, falho, tenho dias ruins, dias bons e, principalmente, não estou num pedestal - estamos no mesmo nível! Falamos a mesma língua! E é aí que eu vejo o respeito. Não vejo respeito no silêncio sepulcral, mas na fala, nas confissões, no olhar atento de fato, no sorriso que surge em meio a uma história, no abraço que correm para me dar. Sinto-me respeitada pelos meus alunos e não queria ser diferente do que sou. 
O que eu queria de fato é que as pessoas levassem a sério a educação neste país. Que o professor recebesse o salário justo pelo trabalho que desempenha, pela formação que teve. Que os cursos de licenciatura fossem mais do que "tapas-buracos"  ou "tampar-sol-com-a-peneira" - queria que todos os estudantes de letras tivessem vontade de ir pra sala de aula a partir dos primeiros dias de aula, assim como aconteceu comigo. Queria que não tivesse mais professor de Artes dando aula de Ciências, ou alunos sem aulas porque simplesmente não tem professor para ocupar o lugar. Queria não ver mais aquele olhar de piedade das pessoas quando eu digo que sou professora. Queria que algumas matérias não fossem vistas mais como "aulas vagas", queria poder ensinar o que realmente é importante para os meus alunos e não o que está no livro. Queria que eles não precisassem saber o que é uma Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal Reduzida de Infinitivo (mesmo porque de que adianta saber isso?) mas que eles pudessem se expressar através da escrita, se emocionar lendo Vidas Secas, queria que eles vissem na literatura não só a chatice de "O que é um soneto", mas enxergar um mundo diferente que existe através das letras dos grandes autores. Queriam que eles não se sentissem mal porque não entendem física e mas sim, bem porque mandam muito bem em história. Queria que a escola não valorizasse o que você não sabe, mas sim o que você sabe! Que incentivasse você a aprimorar o que gosta. Não quero que troque um parlamentar por 39042985 professores. Eu quero que o parlamentar e o professor tenham o mesmo valor, ou melhor, o mesmo salário. Assim como o salário do professor não precisa ser exorbitante, o do parlamentar também não deve ser. Apenas o justo. Não precisamos de mais professores (tá, talvez precisemos de um pouco mais) mas precisamos de professores satisfeitos. Que tenham tempo para preparar suas aulas com qualidade, se aprimorar, atualizar conhecimentos. Tempo para avaliar o seu aluno de maneira plena. E que RECEBA por esse trabalho que vai além da sala de aula. Não quero que os alunos voltem a tratar os alunos como antigamente. Mas que respeitem como todo profissional merece o seu respeito e principalmente que CONFIEM no seu trabalho e na sua capacidade. 

Portanto, como professora por formação (e que se orgulha desse formação), como professora que não o faz só porque não tem outra opção: mas sim justamente por opção, vocação e paixão - Peço-lhes encarecidamente, não revelem a compaixão hipócrita pela causa. Não compartilhe imagens no facebook. Mas sim, ensine a seu filho que aquele que lá está para ensiná-lo o faz porque tem o seu mérito. Ensine ao seu filho que pagando ou não pelo "serviço" o profissional deve fazê-lo como acha certo fazer, uma vez que se estudou para isso. Como aluno, por mais crítico que seja, pense duas vezes ao se levantar de uma sala de aula, ou para fazer perguntas que visem apenas testar, provocar seu professor. Como pai, antes de questionar a avaliação do seu filho, reflita se ele realmente merecia ser avaliado de outra forma. Como professor, tenha a humildade de reconhecer que a situação pode estar caótica, mas você tem o seu papel e parte do seu trabalho só depende de você. Seja ético com seus colegas. Seja ético com seus alunos. Seja coerente com o seu discurso. Mude seu comportamento, sua forma de pensar. Só isso é que é capaz de fazer a diferença.
Nesse dia dos professores, o que eu realmente gostaria é de acreditar que o Brasil pode ser um país em que os professores possam se orgulhar da sua profissão, planejar sua carreira nela, fazer o seu trabalho com dignidade. Que os bons professores não se cansem e nem desistam. Que eu possa ouvir um jovem dizer que quer ser professor e responder-lhe que está é uma boa escolha. E que enquanto eu for professora, eu possa viver momentos como esse abaixo, pois são eles que fazem toda a diferença. 

(Encerramente do Sarau, Colégio Integrado, 2010) 

2 comentários:

Érika de Moraes disse...

Belíssimo texto, Sue!
Beijo grande,
Érika

Laura Flausino Britto de Souza disse...

Excelente texto, e emocionante. Vou acompanhar seu blog. Beijos