quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Assistindo à novela


Pouco assisto TV. Na maioria das vezes, prefiro passar meu tempo livre e ocioso na internet mesmo. Salvo no período das férias, afinal, não teria como ficar todo o meu tempo livre e ocioso na internet, seria tempo demais! Assim sendo, só me restam as maravilhas da Tv aberta! Sem questionar se os programas são bons ou nãos com qualquer tipo de argumento que seja. Não se esqueçam de que televisão é entertenimento!
Comecei então a assistir a novela das 7, Sete Pecados, e como comecei a assistir, é claro que eu não poderia perder o último capítulo!!!! (foi lindo, a Beatriz se redimiu dos seus pecados e a Clarice voltou pro Dante.. ahhh se a vida fosse uma novela! =) E ali, estava eu, me alienando no mundo absurdo e surreal que é retratado pelas novelas quando de repente, não pude deixar de me irritar com uma única fala da personagem interpretada pela Nicette Bruno, não me lembro do que ela disse antes e nem do que ela disse depois, só fiquei com essa frase: "Como diria o poeta que seja eterno enquanto dure".

Que poeta, amiga?????????? O cantor do katinguele, karametade ou sei lá qual é o grupo de pagode que fez o favor de parafrasear os versos do Vinicius de Moraes?
É por isso que detesto versões e afins. É incrível como o que fica na cabeça do povo sempre será a versão! Ou alguém consegue ouvir I'll be there sem se lembrar de Sandy e Junior?
E nessa brincadeira, o pobre do poeta acaba sendo o 'responsável' por um verso que não foi ele que escreveu, e será que só eu percebo a diferença de sentido?
Quando se estuda a linguagem, percebe-se que não existem sinônimos. Se usamos esta e não aquela palavra é por que uma não pode substituir a outra, e se fazemos essa substituição estamos alterando os efeitos de sentido.

Vejamos, não é tão complexo, principalmente nesse caso:
"Que seja eterno esse amor/que dure para sempre" é uma coisa. "Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja INFINITO enquanto dure" é algo totalmente diferente.
Eterno e Infinito não são sinônimos e não devemos substituir um pelo outro. A começar, pela própria forma do soneto, este, tem uma forma rígida, de versos, rimas e sílabas métricas. Logo, e-ter-no não se encaixa no verso da mesma forma que in-fi-ni-to. Mas isso, nem é o que mais importa, o que mais me incomoda está na relação de sentidos mesmo!
Recentemente, usei esse próprio verso para falar sobre o amor. O amor que acaba. O amor que é chama. Eterno é aquilo que não morre, que dura além da morte. Que não tem fim. Nesse caso, eterno se aproxima mais do sentido da palavra imortal. E o que o poeta faz é justamente dizer que o amor NÃO deve ser imortal, posto que é chama. O amor deve ser infinito.
E basta ler todo o soneto para entender o que é amar até o infinito. É de tudo, ao seu amor, ser atento. E se encantar mesmo quando vc achava que não era mais possível se encantar mais. É viver cada vão momento. É rir seu riso, derramar seu pranto, a seu pesar, ao seu contentamento.
E assim, perto do fim daqueles que ama, próximo a solidão. Perto de ver essa chama que se apaga, poder ter a certeza de que enquanto ela esteve acesa, ela foi intensa, ela foi infinita.
Creio eu, que quando as pessoas dizem "que seja eterno enquanto dure", talvez elas tenham essa idéia. Mas não foi isso que o poeta disse.
Valorizo a autoria, sim! Acho importante, ele merece os méritos. Ora, serão gerações repetindo aquilo que ele disse. E aí, vem a maior rede de televisão do país, e divulga o verso do poeta que fez questão de em toda sua vida falar do amor de maneira distorcida. Valeu, rede globo! É nessas horas que eu me lembro porque eu deixo de assistir novela...
Bom, mas faço a minha parte, para aqueles que vêem até aqui e gastam o seu precioso tempo lendo as minhas bobagens, fica o meu pedido de recém-formada em Letras e apaixonada por Literatura: não saiam por aí dizendo que o poeta que fez a frase do pagode do Katinguele... e se me permitem um conselho: não queiram amor eterno, não queiram amar para sempre, mas sim, queiram amar até o infinito.


De tudo ao meu amor serei atento,
antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
que mesmo em face do seu maior encanto
dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
e em seu louvor hei de espalhar meu canto
e rir meu riso, e derramar meu pranto
a seu pesar ou a seu contentamento

e assim, quando mais tarde me procure
quem sabe a morte, angústia de quem vive
ou quem sabe a solidão, fim de quem ama

que eu possa dizer do amor (que tive)
que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure.

(Soneto de fidelidade, Vinicius de Moraes)

3 comentários:

. disse...

uma vez eu estava num barzinho e começou a tocar a versão do babado novo da música "dyer maker". uma menina do meu lado falou: "olha q liiinda essa música do BABADO NOVO!". eu juro que tive ganas de dar-lhe uns petelecos ali mesmo. mas reduzi minha vontade a dizer que a música era do led zeppelin, e que se ela quisesse passar lá em casa depois pra escutar a versão original...

daí pensei: a culpa não é dela. se ela não escuta led, como ela vai saber de quem é a música? o problema é que não temos o costume de mencionar a autoria das coisas. eu mesmo me perco na hora de atribuir autoria de uma música de bossa nova a alguém: é do toquinho? do baden? do gilberto? mas não era o tom jobim q tava cantando?

então tomara que umas senhoras tenham entrado no seu blog, assim por milagre, e ficado com seus domingos um pouco mais felizes lendo o poema do vinícius.

bjo bjo,
léo

ps: põe "dyer maker" no google pra ver o que aparece primeiro...

Michele disse...

hehe, problema foda esse da autoria, e o povo copia mesmo na cara de pau. Exemplo, é só olhar no orkut, o povo entra em um fuça, daí copia a citação tal, o nome do album tal do fulano de tal hehehe...mas enfim, falando sério do assunto, eu não sei dizer se sou contra ou a favor das versões, mesmo porque eu até gosto de algumas, mas eu sei dizer que sou contra vc falar que algo é do fulano se não é. Eu concordo com o amigo aí de cima, tem música que os cantores regravam e ng lembra quem é o verdadeiro autor. Outro exemplo clássico desses é a músicas ASAS do Falamansa, o Tato q escreveu, eles gravaram no primeiro cd, daí veio o Maskavo,botou a música em ritmo de reggae e o povo até hj acha q a música é deles...meu, foda...E eu acho que esse negócio dos pagodeiros terem tranformado o infinito em eterno foi pq infinito é uma palavra que em primeiro não combina com uma música pop e em segundo pq é uma palavra mto culta, tipo, eu tô acostumada com certas palavras, mas se vc conversa com alguém que tenha um pouquinho menos de instrução q vc e fala algumas coisas ela acha q vc fala difícil...sei lá...eu acho q é isso. O problema todo se resume em ler mais viu, se o povo lesse mais saberia quem era autor de obra tal...

Aline Câmara disse...

pois é né...

ser ou não ser
eis a televisão