domingo, março 16, 2008

"Você é meu homem. Eu sou uma mulher que é sua, meu homem."




eu tinha escrito um texto sobre o dia internacional da mulher. Por fim, no mesmo dia, publiquei outro texto, sem nem mesmo perceber o que estava fazendo. Mas, acho que ainda é válido fazer a homenagem que queria ter feiro, afinal, como disse Foot Hardman, "nunca é demais quando se trata de Patrícia Galvão."
Quando li "Paixão Pagu: a autobiografia precoce de Patrícia Galvão" conheci uma mulher que soube por em palavras o conflito que toda mulher moderna enfrentou (enfrenta). Num relato de total entrega, convida o seu amado a lhe conhecer de uma maneira íntima e pessoal, acompanhar toda sua trajetória por ela mesma, trata-se quase de uma confissão em forma de carta, e, posteriormente, foi intitulada de autobiografia:

"Por que dar tanta importância a minha vida? Mas, meu amor, eu a ponho em suas mãos. É só o que eu tenho de intocado e puro. Aí tem você, minhas taras, meus preconceitos de julgamento, o contágio, os micróbios. Seria bom se eu tivesse o poder de ver as coisas com simplicidade, mas minha condição granguignolesca me fornece apenas forma trágica da sondagem. É a única que permite o gosto amargo de novo. Sofra comigo." (Pagu, p. 52)

Ora, não poderia se esperar diferente de uma mulher que passou por tudo que ela viveu. Teve uma infância solitária. Não tinha amigas. Não se entendia com a mãe. Carente, envolveu-se amorosamente cedo... e cedo também descobriu as desilusões. Com treze anos, já fora 'obrigada' a abortar. Inqueita, inconformada e curiosa.. Pagu foi uma mulher a frente do seu tempo. Escrevia, desenhava, lutava, sofria (afinal, canceriana..rss) e tudo que as pessoas sabem sobre ela é que foi a mulher do Oswald e que era comunista revoltada. (Obrigada, Rede Globo).
Mas em seu relato de dentro da prisão, conhecemos uma outra Pagu. Àquela que casou-se pela primeira vez apenas para poder sair da casa dos pais, aquela que sofreu diante da sinceridade exarcebada da vida libertina do Oswald. Sofreu calada. E ainda lhe oferece mérito, por ter sido amigo e nunca ter sentido pena por ela. Uma mulher que viveu a causa comunista no sentido mais pleno da palavra. Enfrentou todas as dificuldades que o política (espaço essencialmente machista) lhe impunha para que pudesse fazer parte dele. Recusou empregos, ficou doente com a vida de operária, quase morreu, foi presa por diversas vezes, afastou-se do seu primeiro filho, Rudá. Descobriu toda a farsa que envolvia o partido e por fim, frustra-se ao chegar a Russia: "Então a revolução se fez para isto?Para que continuem a miséria e a humilhação das crianças?"
É Pagu, realmente, é dificil dizer o porquê das coisas. Muito mais difícil saber o porquê das coisas. Quando digo que ela soube por em palavras o conflito da mulher moderna, o faço porque na literatura, esse assuntoo sempre foi tratado dentro da óptica masculina. Os escritores, em sua maioria homens, traziam personagens homens, e a mulher sempre foi coadjuvante. Com Pagu, conhecemos aquela que via que algo de novo se apresentava, se inquietava com isso, percebia mudança nas relações, nas atitudes, nas tradições. Sua compreensão e interesse pela mudança fica clara com o seu engajamento no paartido: a busca por um ideal, até então, desconhecido. Viveu durante anos com um homem que estava longe de ser o marido ideal romântico, mas que soube criar o seu filho e ser seu companheiro no momento em que mais precisava. Queria ser mãe, como todas as outras mães. Mas a Pagu não era como os outros. Conflitou entre o que "deveria ser" e o que realmente "queria ser". E o entendimento desse mundo chamado moderno, fez com que ela nos apresentasse em sua "biografia"(entre aspas pois não era essa a intenção, afinal, o livro era uma carta para seu segundo marido,Geraldo) a crise das representações. A mulher já não é mais a mesma, o mundo já não é mais o mesmo.. e afinal, o que ele é?
Mudanças assustam.. tendemos a permanecer na inércia. Mas ela não teve medo.
Se tem alguém que merece ser lembrada nesse dia, creio que seja ela. Apesar de ser um dia tão machista e comercial - para vender flores e celulares - ela merece ser lembrada, como uma mulher corajosa, inteligente e bonita. De uma beleza especial. E, também, uma grande escritora!
E quem quiser ler o livro, vale a pena! =)



3 comentários:

Michele disse...

hummm...eu já conhecia a Pagu das aulas que tive no cursinho, a professora explicou ela mais afundo, isso foi antes da minisérie da rede globo hehe...e tbém tem o blog da Marie né pra lembrá-la...hehe...
Bem, se eu tiver oportunidade de pegar esse livro um dia lerei, só não sei qdo, a minha wishlist de leituras está gde hehe...

Anônimo disse...

Oi, Sue Ellen! Fico muito feliz qnd encontro um comentário seu no meu blog e sempre arrumo um tempinho para tb visitar o seu. Gosto de ver essa inteligência pensante numa menina tão jovem. Sim, querida, Pagu merece ser lembrada. E a veia escritora de mulheres como vc vai traçar as linhas de nosso futuro. Parabéns!

Anônimo disse...

Te achei na Marie. Achei o texto forte ... e completamente prudente. Pagu é o retrato do sonho, da emancipação, da vontade de viver ... da liberdade.

Volto por aqui!
Abraços