domingo, abril 25, 2010

Alma


Os dias de neve sempre são mais atraentes. O cenário incrivelmente branco, cobrindo as ruas e casas parece esconder muito mais que os telhados. Escondem vidas, histórias, mistérios. Alma gostava dos dias de neve, apesar do frio convidar a ficar dentro de nossas casas, quando não se tem exatamente uma casa, o melhor é sair pelas ruas, sentindo os flocos de neve caindo sobre a cabeça, em busca de algo inusitado, que torne aquele dia diferente.
Caminhando pelas ruas, um muro chama a sua atenção. De quem seriam todos aqueles nomes? Mônica, Maria, Rosa.. onde estariam essas crianças? "Sim, devem ser crianças" - Alma pensava consigo. E sentiu uma vontade incontrolável de também gravar seu nome, de estar perto daquelas crianças. Então, com o pedacinho de giz que encontrou, escreveu a única palavra que sabia, seu nome: Alma.
Satisfeita com o feito, algo fez com que olhasse para trás, era como se precisasse encontrá-la, estava lá, esperando-a, uma boneca igualzinha a ela: o gorro, o colete cor de rosa, os cabelos curtos e os olhos verdes. Por um instante achou que fosse um espelho, mas ela não se mexia, não piscava. Olhou-se novamente para conferir a semelhança e novamente voltou o olhar para a vitrine E como em um passe de mágica, a boneca havia desaparecido.
Num impulso, Alma tenta abrir a porta. Impossível, estava trancada. Quando ela teria a oportunidade novamente de ter uma boneca igual a ela? O sonho de toda menina estava ali, ao seu alcance. Decepcionada e irritada, arremessa uma bola de neve no vidro que as separa. Como se dessa forma, a porta desistisse e resolvesse abrir...
Sem sucesso, a menina segue cabisbaixa até que algo interrompe sua tristeza - o barulho da porta, abrindo lentamente, como um convite que ela seria incapaz de recusar.
Lá estava, sobre a mesa de centro.Em meio a tantas outras bonecas que não tinham a menor importância, lá estava ela e como era bonita! O entusiasmo era tanto para alcançá-la que mal percebeu o obstáculo no caminho. Tropeçou em um brinquedo - um boneco pálido sobre um triciclo. Agachou para ajudá-lo e o pôs de pé, em um instante o brinquedo percorria a sala, em direção a porta, como se quisesse fugir.Alma achou graça da tentativa de fuga daquele boneco feio e por um momento se distraiu do seu objetivo. Uma sala cheia de bonecos seria uma distração para qualquer criança, mas Alma só tinha olhos para ela, a sua boneca que agora, misteriosamente, estava em uma estante com muitas outras bonecas, todas ímpares e singulares.
Cuidadosamente, subiu pelo sofá para alcançá-la, estavam cada vez mais próximas uma da outra. Tirou a luva para que pudesse senti-la melhor, tocá-la e segurá-la de forma a não perdê-la mais. Esticou bem os pequenos braços e fez um esforço imenso para manter-se na ponta dos pés. Não poderia desistir agora que estava tão perto.
Tocou-a. Nesse instante, uma confusão enorme se fez presente. Uma escuridão repentina e de repente, sentiu-se presa. Sufocada. Em pânico, sem entender o que se passava, percebeu que olhava por um vidro, podia ver, ouvir, sentir, mas não podia se mexer, nem gritar, nem correr. Como todas aquelas bonecas que lhe faziam companhia naquela prateleira. E de lá, pôde ver a próxima vítima, a boneca de uma menina ruiva, com um vestido vermelho de flores amarelas.


Assista: http://www.youtube.com/watch?v=63fwk_pQFIE

3 comentários:

Michele disse...

Odeio neve!

Du Santana disse...

Eu conheci uma menina parecida com Alma, ela ficava na vitrine, intocavél, mas pq ela mesma queria.
A três anos atráz meu coração se parecia com Alma.

Du Santana disse...

Eu conheci uma menina parecida com Alma, ela ficava na vitrine, intocavél, mas pq ela mesma queria.
A três anos atráz meu coração se parecia com Alma.