quarta-feira, janeiro 23, 2008


Era 4 de fevereiro de 2004. Quinze horas e cinqüenta e oito minutos. Em dois minutos minha vida iria mudar. Lembro-me como se fosse hoje, o coração pulsava e a mão tremia. Naquele momento, aqueles dois minutos nos dividiam entre concorrentes e colegas de classe. Éramos mais ou menos 450 candidatos, e apenas trinta, só trinta puderam ficar. Alguns viveram a angústia de chegar perto, de ter que esperar ainda por algumas horas, ou até dias, para adentrar nesse mundo tão desejado, mas até então desconhecido chamado unicamp.

Em meio a essa realidade que exclui, que frustra, que decepciona, por algum motivo – acaso, ironia, destino? - a partir daquelas 16 horas do verão de fevereiro, aqueles 30 passariam a formar um grupo. Desde lá de Aiuruoca - MG, passando por vários cantos do interior de São Paulo, diversos sotaques, diversas histórias de vida e todos ali, para os ventos da Unicamp. Ventos esses que carregam histórias, culturas, mundos, sonhos. Ventos que refrescam, que afligem, que carregam um pouco de nós e nos levam para o mundo.

O que eu poderia saber naquele 4 de fevereiro sobre o que estava por vir? Nada. Eu, com meus 17 anos, recém-colegial, não tinha sequer idéia do quanto aquelas outras 29 pessoas seriam fundamentais pra que hoje eu seja o que sou.

Hoje, eu não sou só Sue Ellen. Hoje, eu sou paixão de Aline, sou alegria de Cristiane, sou sensatez de Stela, sou sarcasmo de Juliana Pedro, sou determinação de Heloísa, eu sou carinho de Juliana Gaiola, eu sou dedicação de Michele, serenidade de Rosana, espontaneidade de João Batista, sou a luta da Mineira, sou viagens de Ângelo, sou animação de Alexsandra, sou fã daquele que irá ganhar o prêmio Nobel de literatura, o ilustríssimo Clóvis, sou admiração por Fernando, sou grata ao Eduardo pelo socorro e pela paciência, sou saudades da querida Sol, sou idealismo do Digão, sou “brutal” como o Luis, sou “o cara” como a Manu, sou uma deusa como Marilu, sou fé de Rodrigo, sou simpatia da Simone, sou Afonso, sou discrição de Talita, sou Maysa, sou Fábio, sou Lorena, sou Marcela, sou Julia, sou Aldes... Sou uma Diva. Sou sete divas. “Somos nozes”.

Somos “ícones” do Iel, somos partes que constituem o todo dessa família chama Letras Noturno 04. Essa família brigou, chorou, riu, riu muito! Sentiu raiva, quis desistir, jogar tudo para o alto – afinal, ninguém disse que seria fácil – mas que hoje está aqui.

Eu poderia até agradecer a todos que nos ajudaram a chegar até aqui, mas, que esses me desculpem, mas essa noite é nossa. Esse momento é apenas nosso, e só nós sabemos o que ele significa. Só nós sabemos o quanto nosso mundo mudou nesses quatro anos, o que a linguagem e a literatura significam pra cada um de nós, desde aquele dia quando recebemos uma camiseta que dizia: “A gente somos contra o preconceito lingüístico e a favor da concordância ideológica”. Seria impossível dizer em cinco minutos o inefável.

Por isso, agora, eu quero olhar para cada um de vocês, guardar cada sorriso, cada gesto, cada olhar e registrá-los na minha memória. E ter a certeza de que eu poderia, sem hesitar, viver tudo de novo. Faria todas as resenhas, todos os exercícios de latim, cada prova de TL, cada “Entraîne-vous” do francês, cada árvore gerativa, tudo! Até mesmo as infinitas ELs e a LA 900, para ter a certeza de ter mais quatro anos compartilhados com cada um de vocês. Vocês que, hoje, fazem parte do meu “Eu”. Vocês que são a minha memória. E, digam-me, o que é o homem senão a sua memória?

Diante do fim, como diria a canção: “Metade de mim, agora é assim: de um lado a poesia, o verbo, a saudade, do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim. E o fim é belo incerto... depende de como você vê, o novo, o credo, a fé que você deposita em você e só... Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de vocês. Só enquanto eu respirar.”

A vocês, Amigos, todo o meu carinho e agradecimento. E a certeza de que aqueles mesmos ventos que nos trouxeram até aqui, nos levarão para os melhores caminhos, e cada um de nós levará um pouco do outro, e estaremos sempre juntos. Em alguma brisa, em alguma lembrança, em algum verso...

Obrigada!

3 comentários:

Anônimo disse...

Excelente discurso, Sue. Parabéns! Olha só, heim?! Eu o primeiro a comentar... A Stelinha me mandou o link. Eu nem sabia que você tinha um blog...
Gostei bastante do seu texto. Você conseguiu fazer um discurso interessante e cativante para todos os presentes! Quem não era da turma, com certeza se manteve atento e aproveitou o momento. Quem era da turma, certamente se comoveu com o conteúdo saudosista e os elementos importantes citados, que os marcaram ao longo de sua trajetória! Isso é o mais difícil: expandir a oratória a todos os presentes! E você o fez! Isso é capacidade de poucos!
Adorei a camiseta de vocês! Eu, apesar de engenheiro, sou meio lingüista por hobby, e realmente achei fantástica a mensagem! Também me diverti bastante com o "Somos nozes" e com a "sensatez de Stela" - eu leio e lembro do momento no Galleria em que eu tirei sarro dela, dizendo que era insensata! É engraçado que ela duvida da própria sensatez. Mas ela está certa, pois uma pessoa sensata realmente não se julga sensata...
Chega! Já falei demais. Daqui a pouco meu comentário ficará mais longo do que seu texto. O foco aqui é você!
Mais uma vez, meus parabéns! Vocês realmente são divas!!!
Beijos. Sucesso na sua profissão, você merece! Sem mais delongas:
Felipe.

Anônimo disse...

Só de ler, eu me emociono over and over again...

E eh como eu disse, assim que segurei sua mão gelada, pós-discurso: eu tenho um puta dum orgulho de você!

Beijo, linda!

Michele disse...

hehe, q honra ter sido a primeira e ler isso...fui eu num fui???ficou mto lindo Sue, dava tudo pra ter estado lá no dia vendo vc ler tudo bonitinho.bjo gde!!!