terça-feira, fevereiro 05, 2008

Descartável.

Uma das invenções do mundo moderno foram os artigos descartáveis. Com a velocidade e dinamicidade que a vida das pessoas tomou, viu-se a necessidade de criar estratégias para facilitar a vida moderna. Afinal, tempo é dinheiro.
Fralda descartável facilita a vida da mãe e do bebê, creio eu. (afinal, não deveria ser nada confortável ficar mijado num pano que demora pra secar.) Os copos descartáveis também facilitam. Usou e jogou fora. O meio ambiente? Bem, passaram a pensar no meio ambiente só muito tempo depois. A principio, como já disse, tempo é dinheiro. E o que é descartável, economiza tempo.
Pois o problema é que as proporções desse comportamento foram maiores. A velocidade do mundo moderno tornou as relações também descartáveis. Os românticos que me perdoem, e que não me crucifiquem. Afinal, vcs têm que concordar comigo que é verdade.
As relações tem vida útil determinada em função da vontade de cada um. Enquanto aquela pessoa te faz bem, você sustenta. Passou a não te favorecer mais, você joga fora. Igualzinho a um copo descartável. Enquanto ele serve pra você tomar coca cola, vc o usa. Se ele rasga, ou se vc encontra um maior, ou ainda, se vc o esquece em algum canto, imediatamente, vc procura outro. E, ao meu ver, é assim que as pessoas têm tratado umas as outras, como se fossem descartáveis. Em qualquer tipo de relação. No âmbito profissional, enquanto vc serve, ótimo. O primeiro deslize, tchau. Tolerância? Paciência? Ora, há espaço pra esses sentimentos? Tempo é dinheiro. Paciência exige tempo. Tempo é dinheiro.
Amizades, conhece hoje, amanhã já é miguxa. E depois de amanhã não se lembra mais. Acabou a baladenha, acabou a amizade perfect. Enquanto a amizade favorece interesses pessoais, ótimo. Não mais, adeus. Respeito, consideração? Mais uma vez, tolerância? Pra que tentar entender o outro? É difícil, exige tempo, a vida passa.. tantas pessoas no mundo. Igual àquelas máquinas fotográficas que você usa só para aqueles momentos e depois, não precisa mais. Descartável, com vida util resumida a algumas fotos.
E as relações de amor então. No conflito do desejo e o sentimento. Como me disse uma amiga uma vez, difícil encontrar a linha tênue que divide a curtição do envolvimento. Pra uns, curtição. Enquanto o outro apenas está "curtindo", ótimo. Passou a ter envolvimento, passa-se pra outra. E tudo o que viveu. Vai pra reciclagem. Assim como as garrafas pet. Você que dê um jeito de se reciclar, porque a coleta seletiva leva tempo. "Tempo é dinheiro. Não quero perder tempo". E assim, atropelamos uns aos outros, invadimos individualidades, julgamos ações, apontamos o dedo e dizemos o que o outro deve fazer, ninguém se esforça pra compreender. Vive cada um dentro das suas verdades, e o outro. O outro é problema dele.
Há momentos em que me sinto assim. Descartável. Eu tenho meu ego. Minha auto estima. Eu queria sentir que sou importante. A gente sempre que sentir que é. Quer ouvir, quer perceber, quer sentir.. e de repente, a gente só sente que é descartável. É como se na verdade, eu só devesse ser importante pra mim mesma. Porque nunca você será prioridade pra outra pessoa.
Pode parecer um pensamento infantil, ou egoísta. Ou só um surto de tpm. Mas..enfim, só sei que é ruim. É ruim se sentir descartável.
Não quero ser injusta com aqueles por quem gosto e estão comigo sempre. Não penso isso de todos. E talvez, por ter pessoas importantes, eu não devesse me preocupar com essa sensação. Mas o que me intriga, não é apenas sentir isso quanto a mim. É ver esse comportamento nas relações das pessoas uma com as outras. O que leva alguém a pensar que podemos fazer isso uns com os outros? Em que medida vc tem o direito de tratar uma pessoa como se ela fosse um copo descartável e cobrar que ela entenda isso? Não, não dá pra entender. A gente finge. Engole seco. Caminha. Continua. Mas entender, nunca.


Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração


(Fernando Pessoa)

2 comentários:

Michele disse...

eita, eu reconheci o senhor samir nesse texto...eu me perguntava essas perguntas daí do fim about him...anyway, nunca terei respostas...
MASSSS eu acho q o mais mágico de tudo é ver q mesmo nesse mundo descartável a gente consegue achar pessoas q valham a pena...e que não te acham descartável, pelo contrário...e é por essas pessoas, q mtas vezes a gente nem dá o valor devido q deveríamos viver...
sue, te amo fia!!!
bjos!!!

Diegovj disse...

Pelo visto tb é fã de Pessoa...rs.
Gostei muito desse texto, mas concordo com o comentário acima da Michele; ainda acho e quero acreditar que existem muitas pessoas que valem a pena, basta a gente saber procurar!
Bjão, estarei sempre por aqui!