sexta-feira, fevereiro 29, 2008

O inferno


"O que mais me chateia na raiva é que sei, por experiência, que ela passa. A raiva, sim, é um pássaro selvagem: você tenta amansar ele, ganhar confiança, mas quando menos se espera, ele bate assa e foge. A gente fica então com uma fraqueza no peito, no corpo todo, como depois de uma febre. Querendo colo. Mas o pior é o período antes da fraqueza, tomo mundo com os nervos a flor da pele. As caras que por acaso rompiam a barreira do meu quarto eram todas de tragédia. Menos os inocentes: Chico, Íssimo, Bem-me-quer.
Embora fosse antigamente uma princesa (isso o Teo dizia) eu me sentia um sapo. Haveria algum dia o beijo salvador?
Pensava na Berta. Talvez ela...
Mas era cedo ainda. Eu estava muito cheia de raiva (no funfo, vergonha) e, embora tivesse gritado "perdão" à vista de todos, eu não queria me arrepender. Por isso estava ainda naquele inferno. No inferno, isso eu sei, é proibido o arrependimento. Continuamos fiéis aos nossos erros.

Aos trancos e relâmpagos, Vilma Arêas.
Vilma Arêas
É professora de literatura brasileira na Universidade Estadual de Campinas e autora, entre outros livros, de "Clarice Lispector com a Ponta dos Dedos" e "Trouxa Frouxa" (Companhia das Letras).

Ela tem um jeitinho "a la" Clarice mesmo..


4 comentários:

Aline Câmara disse...

Vc já teve aula com a Vilma?
Ela é uma figura!

Carolina Bonturi disse...

os que ficam do lado de lá da porta do quarto geralmente sabem reconhecer - sem que haja pedidos de desculpa - que tudo não passa de uma raivinha. às segundas, como a chuva, a raivinha vai embora.

=*

Carolina Bonturi disse...

[sobre o penúltimo post]Piaf. piaf não é muito bonito sem o primeiro nome. talvez se vc tivesse tentado um sotaque francês.

heeey! vc faz unicamp!
que curso? e vc conhece o Léo. e a Aline. é da Letras? eu sou...

Anônimo disse...
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